8.08.2013

em tempos difíceis... o melhor é não gritar tanto... melhor olhar para dentro e ver o que conseguimos de energia... de verdade... melhor é vasculhar os próprios rins e desinflamá-los.... olhar para as próprias mãos armadas e retirar das próprias mãos todo e qualquer objeto cortante... O triste é que as marcas de sapato em meu peito nos últimos tempos são de quem também sofre... de quem também luta por sobrevivência... novamente a memória me motiva a resistir... e me dá algum sopro de vida... quando vejo artistas atirando em artistas sinto que o poder corrupto conseguiu seu intento... sinto medo... sinto tristeza quando o ato de aparecer é mais potente que a atitude de existir... Lutamos tanto tempo para o teatro se tornar uma arma contra a injustiça... e o que vejo é o teatro armado contra si próprio... armas apontadas do lado oposto as que a guerrilha nos exige... mas ainda acredito... que haverão tempos de paz... que não retiraremos as poucas moedas dos bolsos de quem passa fome... que derrubaremos a casa do ESTADO e não do pequeno grupo que tenta sobreviver... que derrubaremos a casa da Intolerância... que derrubaremos a casa de quem impõe religião e sexualidade.... que derrubaremos a casa do ódio... que comeremos na mesma mesa... e cozinharemos na mesma cozinha... Eu ainda acredito!...Borandá!

incompleto...

foi no ato de recusar que a praça pública queimou os seus... foi no ato de recusar que quebrei a coluna sustentável.. prefiro assim... cheio de cortes.. rupturas... cada dia mais longe das bocas que insistem em aparecer no lugar de existirem... estou envelhecendo tranquilo... voando para aquilo que preserva a memória de meus ancestrais... (memória... Não posso exigir memória de quem ali não estava.... não posso exigir memória de quem só olha para o hoje...) entrego a casa aos cupins... e vou retomando a viagem... acredito na transição... e o tempo longo em que ali mergulhamos... o tempo está mais claro agora... o melhor mesmo é ser incompleto...

11.10.2011

escombros...

a Tempestade toda vai passar... e vou rever a velha lata enferrujada coberta pelo mato... será um relicário antigo... pessoas intensas... coisas intensas... todas passam... ouvi muitos gritos esse ano... senti as facas todas... vi casas indestrutíveis no chão... ainda ecoa poeira em meus ouvidos... poeira que na chuva virou lama... eu vi aquele apelo todo ao trono do "ter razão..." ter razão sobre o quê mesmo? que também está coberto sob o mato... e no final das contas... nenhuma escuta... nenhum mergulho verdadeiro no buraco negro dos amigos... onde moro caindo... e muitos me dão as mãos... pois vou sempre cair para o alto...
mergulhem neste buraco sem razão... encontrem-me lá... onde há silêncio... onde não precisa gritar tanto... mergulhe.... de uma vez por todas... e enquanto caímos descobrirá porque fui embora...

12.21.2009

como-lhe

espantei-me...
e aquele mato que já permanecera cobriu a casa...cobri-lhe... e emantei.... e mato virou manto....
de lâminas que tenho afiadas... afiei-me e pela primeira vez estávamos refletidos... nus...
cortei-me... e notei também pela primeira vez o sangue que corria dentro de tanto....
tanto...

vasculhei... entrei.... estou...
é santo....
já lhe rezo....
já lhe sou....
já me deito no chão para que venha...
e de palavras pequenas....
tenho-lhe a imensidão do vôo... eternizo....
do caminho direto entre a porta e a cozinha...
tenho-lhe pingando....
do caminho indireto.... cubro-lhe.... protejo-nos...
do tranco... a ponte.... um monte...
dos lábios mordidos e da língua no dente... tens a santidade de me ver malvado...
e lobo...
e sopro...
como-lhe.... devoramos....
demoramos....demoramos.... demoramos....
vem....

2.06.2009

tanto

é tanto.... que de espanto...
não há quebranto....
e te protejo com um manto
de plumas...
e banhos de espumas...
pois assim vai alma....
que por sua causa... dorme calma
na cama...

7.20.2008


é quando paro de correr

e quando paro

é quando percorro trilha de coisas quebradas

e não corto

é quando abro portas fechadas

que eu me tranco

é quando minhas dores são pesadas

que eu não peso

é quando tudo está lotado

que ando no vazio

é para respirar que fecho as narinas

é para gritar que fecho a boca

é para sempre ter você

que eu fujo

é para um dia ficar parado

que corro tanto

é para não sentir dor

que me corto

é para voar que eu durmo

é apra dormir que eu canso

e não me canso

quando nada vem...

(...)

assim como é..

de tanto engolir gente
eu me afundo
é tão doído quando me atacam
é tão curto sem gentileza..
seus tamancos e minhas costelas
sua raiva e meu olhar distante
vaso de vaidade
agulhas e línguas
pés descalços e tijolos
eu lá embaixo... e o mundo assim como é...

10.29.2007

FUGA E RELICÁRIOS...


De tal fuga... meus relicários e um sorriso
De minha ausência... tens minhas febres
Me darei por vencido pois não há boca que narre
Há pequenos objetos que não sou capaz de montar...
Não há louça quebrada
Não há copos pra lavar
Não há chuva que me molhe mas na porta estou...
Reforço a fé de que haja pegadas que eu possa seguir...
Um beijo tem a crueldade da exaustão...
Se me causo dor é porque atinjo o rim cheio de pedras...
E das dores tenho minha felicidade
Absorvo e me torno livre...
E livre sou capaz de voar sem que me veja...
E é pela fresta de luz que visito teus detalhes...
Abro sua geladeira...
E durmo... e saio...
Verás que tenho mãos de defesa...
E o corpo talhado em cicatrizes
Tenho facas pontiagudas mas não corto
Paciência para ser lento
Corpo pra derretimento
Meu estado de fuga
Ainda assim sei que não ficará para o café
Sei que dormirei em concha de mim mesmo
Mas continuo em direção ao mar
E é tão rápido que não consigo parar de correr...
É quieto o miolo da tempestade
Onde há um corpo que flutua
Nesse miolo palavras se perdem...
Contento-me com o sonho de minha janela...
Com sua delicadeza em não quebrar meus objetos imaginários
Por estar tão perto...
(...)

10.23.2007

NÃO É DE SÚBITO QUE OLHO PARA DENTRO

Olho que olha para dentro
Somente terra a dentro é possível pensar
Não acontece o mesmo com a superfície...
Ou nas alturas...
Minha malícia está profundamente enraizada
É aqui que lido com ela
É tarde demais para ver o sol...
Os cães estão enlouquecidos...
Roçam os focinhos no chão para livrar-se dos carrapatos...
Aqui não os tenho...
Embora eu os ouça
E sinta algo por eles
No que se refere ao assassinato que me colocou nesta posição
A apresentação do corpo bastou para apagar os ressentimentos
Mesmo após a carnificina ainda resiste a sensação de algum outro crime oculto
Imagino-me na superfície... mas insisto nos olhos vendados
Desvio o meu olho exausto pois tentar focalizá-lo é fisicamente desgastante
Mesmo nesta condição há bolhas de sangue borbulhando em meu cérebro...
Sinto arranhões produzidos por ilusões passageiras
Por nossas tentativas de algum desvio
Há manchas em minha carne mas não são exatamente cicatrizes
Minhas cicatrizes são produzidas pelo meu próprio espelho
De meu ato de respirar surgirá sempre o inesperado.
Não. Não me esqueça. Há tantos objetos que aceitam remendos.
Mesmo a faca...
O sangue pode ser lavado
Decerto escorrerá pelo ralo
Longe de meu corpo
Endurecemos tanto as nossas expressões
Paremos...
Vamos jantar e depois dormir
O branco que hoje possuo é o mais violento de todos
As palavras que tento pronunciar não fecham feridas
Há esse veneno da curiosidade
Corrosivo
Desintegrando o fígado
Mas não preciso de fígados ruins
A respiração penosa está sumindo
E o que virá agora me lançará ao fundo
Se a respiração tomou controle é porque aprendeu a não existir
A balança está revertida mediante a único golpe
Inalei gás venenoso antes de ser esfaqueado
E o vapor que cegou meus olhos mostra o rosto de um sujeito estrategicamente mergulhado na obscuridade
A partir daqui tudo me é eternidade...
Aqui posso ver meu olho pelo lado de dentro
Enxergo com precisão a inflamação de meus rins
E o que dá origem a meus sonhos
Minha ausência e meu amor são irmãos gêmeos
Ambos doem
Ambos são sublimes
Estou em uma janela onde a casa sonha ser mundo
Onde minha alegria tem cabimento
Onde não há a inveja dos anjos
Não é de súbito
Sempre há algo para se inventar
Entrem... um a um
Deixo poeirar os objetos da sala
Quero destruir meus objetos provisórios
Ainda assim não desejo o definitivo
Quero fechar os olhos e afiar uma lâmina de alegria
Quero submergir minha alma...
Quero desraciocinar
Gastei noites demais esperando os dias...
O regresso está ganho
O barco irá me buscar...
Esqueci o meu nome...
Há quem olhe a fera e pense na jaula
Quero desentortar a alma...
Aborver o silêncio quando ele chega
Quero fazer barulho
Cor em minha penumbra...
Sombra acompanhada...
Não é de súbito...

ESCAVAÇÃO PARA A SUPERFÍCIE


Está passando...
Lentamente ganho uma sensação de restauro
De retorno aos meus poderes de observação....
Embora esteja imbuído de alguma raiva, sinto-me frio e deprimido
Meus olhos já não estão fixos em sua direção...
Minha aura de ódio esfriou
Tudo isso é a natureza essencial de minha violência
Temos sempre a necessidade de manter a mão suja
O erro é um ato de prazer para o homem
A destruição é um ato sexual
E essa presença apenas consegue revolver camadas mais superficiais de minha memória
E faz reviver a palavra adúltero como um eco sexual
Há uma terrível experiência que pretendo não comentar enquanto estiver vivo...
A verdade absoluta é assassina
Um homem que revela seus segredos não possui nenhuma saída
Disseco o medo do escuro
Minha mente fica nublada ao descrever o obscuro
É como se meu coração se tornasse repulsivo
Por instantes tomo a perspectiva do observador
Cada talho em minha pele me rejuvenesce
Minha sanidade desmente as proporções de minha carne
Sinto que ainda estou encurvado como um cadáver
Mas insisto na vida e arrasto-me pelo porão em direção à escada
Ainda tento ameaçar meu íntimo
Mas meu tempo é valioso....
Alucinações são tão valiosas quanto a realidade mas é preciso discerni-las
Pecado e maldade não são a mesma coisa
E foi a maldade que eu havia ignorado
A necessidade da vingança me sufoca e manifestá-la só aumentará o abismo
Tenho nós em minhas artérias e moscas retorcendo os meus dedos
Mas também foi aqui que adormeci olhando o mar
Se nos falarmos, choraremos sem retorno
Estou próximo a meu ato de morte
Onde guardarei em mim meus segredos mais profundos
Retirei o meu inferno particular do armário
E coloquei no quintal para retirar o mofo
Acostumei-me com a escuridão
Ela me é confortável
E meu olho detecta a luz vinda da janela
Não é mais a escuridão que me assombra, pois a ela pertenço
O que me trai são essas luzes produzidas artificialmente
Consigo distinguir a silhueta negra e o quanto treme pela tensão reprimida
Luto para elevar-me acima desse subterrâneo o mais rápido possível
Haverá um longo período até encontrar o nível do chão
Agora que não mais tenho medo sou obrigado a seguir o caminho sozinho
Meu corpo inteiro foi desmembrado e atormentado por dores agudas
Ainda estou no processo de assimilação... logo o de dissimulação
Meu corpo está mais forte mas meu tempo custa
E não admito ser costurado
Não admito que deposite em mim sua única esperança de vencer o medo
Em meu silêncio vc não pode penetrar!
Continuo a escavação, aprofundando os meus subterrâneos
Um dia essa mesma escavação será minha cova...
E haverá paz...

acidentes geram crimes

Abandonei qualquer tentativa de mantê-lo em silêncio
Há no fundo daquela voz de desenho animado um tom de exibicionismo desafiador...
Um canastra de desejo insatisfeito... mesmo quando feito
Que revolve suas entranhas
Um aspirante a assassino
Obcecado e agarrado a ficções infantis
Uma criança cruel...
Que exibe a picada no dedo provocada por um inseto
mas esconde de todos que escolheu uma espécie cuja picada não arde
Insetos podem voar...
Este se debate no chão
Será esmagado sem dúvida
Mesmo que se eleve a domador de moscas
Logo perceberá que elas voltam-se diretamente para onde estão as fezes...
Um mau parasitário que não teve coragem ou inteligência para cometer o crime por conta própria
Apenas tomou o acidente como crime...
Eu esperei sinceramente algum ato de coragem
Não houve um plano sincero de autodestruição
Nenhuma redenção
Um orgulhoso que escolheu ser salvo
Há muito mais dignidade em ser linchado ou condenado à morte do que querer ser salvo
Não. Não aceito seus olhos
Vc não será linchado
Amanhã de manhã não haverá uma corte para sentenciá-lo
Um sentimento de culpa de codinome orgulho
Triste é o homem que brinca com situações perigosas
Mas que invariavelmente guarda uma saída para o último momento
Há em vc um sujo subterfúgio para continuar vivendo..
Porque não encara seus fantasmas?´
É preciso ser absolvido por uma honra inata para ser um feio de pureza
Somente os feios puros podem ser belos...
Ainda há algo a dizer sobre heróis salvadores de princesas..
As distorções de sua memória indicam o meu desejo de que o dragão sempre vença o herói....
O verdadeiro malfeitor possui defeitos em sua sensibilidade
Que o leva a trair os sofridos
Essa arma sem balas será usada pelo meu inimigo...
Quando estiver abandonado e obrigado a defender-se sozinho....
É terrível aquilo que aproxima-se à denunciá-lo...
Esse que não fortalece aliados
Mas contenta-se com a aparência da cooperação
Infeliz... ainda tenta esconder as sombras na cozinha
Enquanto gasta energia em colocar flores de plástico do lado de fora da casa
É necessário muito caráter para sentir vergonha
Para ser punido...
Os dois lados de sua personalidade não vão se unir na hora da morte
É fácil pegar os ratos na ratoeira...
Eles ainda não resistem ao queijo..